aplicação do modelo calgary de avaliação em ... - Enfermagem UERJ

in a reference service of gynecology in Fortaleza, Ceara, between September and October 2003. Data ..... relacionamento com sua mãe e tem procurado man-.
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Diógenes MAR, Varela ZMV

APLIC AÇÃO DO M ODELO CALG AR Y PLICAÇÃO ALGAR ARY DE AVALIAÇÃO EM FAMÍLIA DE GEST ANTE POR TADORA DE ESTANTE ORT PAPILOMA VIRUS HUMANO APILOMAVIRUS THE USE OF THE CALG AR Y’S MODEL TO EVAL UATE ALGAR ARY ALU Y OF A PREGNANT WOMAN HAVING THE FAMIL AMILY HUMAN PAPILLOMA VIRUS INFECTION APILLOMAVIRUS Maria Albertina Rocha Diógenes* Zulene Maria de Vasconcelos Varela**

RESUMO: Trata-se de estudo de caso, cujo objetivo foi avaliar a família de uma gestante, solteira, portadora de Papilomavirus humano, priorizando os vínculos afetivos entre mãe e filha, através do Modelo Calgary de Avaliação de Famílias, em uma unidade de referência em ginecologia em FortalezaCeará, nos meses de setembro e outubro de 2003. Para a coleta de dados foram utilizados genograma, ecomapa, observação, diário de campo e o diário de gestante. Verificou-se que a família da gestante apresentava dificuldades em lidar simultaneamente com as questões da gravidez e da doença, as quais afetaram a sua dinâmica e os vínculos afetivos entre mãe/filha. A atuação da enfermeira permitiu que os familiares refletissem sobre os problemas apresentados, e, a partir dessa realidade, foram possíveis mudanças de auto-reconhecimento e conhecimento de novos papéis dentro da estrutura familiar. Palavras-chave: Educação em saúde; enfermeira; gestante; saúde da família. ABSTRACT ABSTRACT:: The purpose of this case study was to evaluate the family of an unmarried pregnant woman who had human papillomavirus infection. Priority has been given to the emotional links between mother and daughter, as evidenced by the Calgary Model of Family Evaluation. The study has been accomplished in a reference service of gynecology in Fortaleza, Ceara, between September and October 2003. Data has been collected from the genogram, the ecomap, the fieldwork diary, the pregnant personal diary and by observation. We evidenced that the family had difficulties to deal simultaneously with the pregnancy and the infectious disease; such difficulties affected the family dynamics and the emotional links between mother and daughter. The nurse care helped the family members to reflect about those problems, leading to possible changes related to self-recognition and to the establishment of new roles in the family structure. Keywords: Health education; nurse; pregnancy; family health.

I NTRODUÇÃO

O processo de cuidar da saúde da família

pode ser abordado dentro de um referencial teórico que possibilite alterar os padrões usuais da prática e propicie à enfermeira avaliar e intervir com famílias por meio de relacionamento colaborativo. Neste estudo, optamos por trabalhar com o Modelo Calgary de Avaliação de Famílias1 (MCAF), uma estrutura multidimensional que contempla três categorias principais de funcionamento da família: estrutural, de desenvolvimento e funcional. Família é quem seus membros dizem que são, ou seja, quem considera como família1. Na prática de enfermagem, a família deve ser considerada como

um sistema, portanto, o sistema familiar é parte de um supra-sistema mais amplo, composto de muitos subsistemas, como pais-filho, cônjuge e irmãos. Também,concomitantemente, a família é envolvida por diversos supra-sistemas mais amplos, como vizinhanças, organizações ou comunidades religiosas 1. O objetivo do estudo foi o de avaliar a família de uma gestante solteira, portadora de Papilomavirus humano – doença sexualmente transmissível (DST), priorizando os vínculos afetivos entre mãe e filha, através do Modelo Calgary de Avaliação de Famílias. R Enferm UERJ 2004; 12:199-04.

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Modelo Calgary de avaliação

MARCO REFERENCIAL

O HPV é uma doença infecciosa, de trans-

missão freqüentemente sexual, cujo agente etiológico é um DNA vírus não cultivável do grupo papovavírus. A atividade sexual precoce aumenta o risco de adquirir essa doença e inclusive a história prévia de outras doenças sexualmente transmissíveis (DST). A transmissão da infecção acontece através de contato direto epitélio/epitélio2,3 Em relação à transmissão materno-fetal, não está determinado o valor preventivo da cirurgia cesariana; portanto, ela não deve ser realizada baseando-se apenas na prevenção da transmissão do HPV, uma vez que pode ocorrer no período gestacional, intra e periparto2; Mas na prática, há controvérsias em relação ao tipo de parto a que a mulher poderá se submeter. Entretanto se as lesões estiverem ocluindo totalmente o canal do parto, este deve ser cesariano2,4. Os profissionais não devem esquecer de que esse procedimento é uma intervenção cirúrgica e necessitam unir esforços no sentido de diminuir os números de cesáreas desnecessárias com possível risco para a saúde da mãe e do feto5. O HPV 6, 11, 16 e 18 foram detectados na orofaringe, conjuntiva e genitália de recém-nascido. Mas estudos comprovaram que houve um decréscimo do vírus no período neonatal, sugerindo mais uma contaminação inicial do que uma infecção propriamente dita2. Contudo, mesmo a transmissão do vírus mãe/filho sendo considerada de baixa incidência, os profissionais da saúde podem discutir com essa família sobre a possibilidade de risco; as enfermeiras e os pediatras, que atuam com crianças na fase do crescimento e desenvolvimento, também devem informar a mãe sobre essa probabilidade. O acompanhamento clínico na puericultura de filhos de famílias de mães portadoras de HPV deve ser considerado6. A avaliação das famílias, a partir das três categorias do MCAF: estrutural, desenvolvimental e funcional, é apresentada a seguir. A categoria estrutural permite à enfermeira avaliar quem faz parte da família, qual o vínculo afetivo entre seus membros e o contexto familiar1. Na categoria de desenvolvimento1, é preciso distinguir o que seja desenvolvimento da família e ciclo vital da família; o primeiro é a trajetória exclusiva construída por uma família, já o segundo é a trajetória típica [conforme o ciclo vital] que cada família vivencia. O desenvolvimento da família é modelado por eventos previsíveis e imprevisíveis como a doença, catástrofes, tendências sociais. No p.200 •

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ciclo vital da família acontecem os eventos típicos desse ciclo e associam-se às entradas e saídas de membros da família, como nascimento, educação dos filhos, saída destes de casa, aposentadoria e morte. Esses acontecimentos geram mudanças nos diversos papéis desepenhados pelos membros da família que necessitam de sua reorganização e de revisão das regras familiares1. A categoria funcional divide-se em instrumental e expressiva. Diz respeito ao comportamento dos indivíduos na dinâmica das interações entre os subsistemas do sistema familiar. O aspecto instrumental da família relaciona as atividades rotineiras da vida diária, como comer, dormir, realizar atividades no trabalho. As atividades da vida diária assumem maior significado quando ocorre uma doença em um membro da família que passará a depender de outro para realizar tarefas instrumentais. Já o aspecto expressivo dá-se através das comunicações, permitindo aos membros interagirem e darem um sentido a suas vidas1.

PERCURSO METODOLÓGICO

Trata-se de um estudo de caso realizado no

Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPCC), em Fortaleza, referência em ginecologia da Secretaria de Saúde do Estado, nos meses de setembro e outubro de 2003, com família de gestante solteira e portadora de HPV, referenciada de uma Unidade Básica de Saúde (UBASF) para aquela unidade, para tratamento da doença. Para preservar o nome da cliente participante da pesquisa, a chamamos de Gabi e seus familiares foram referenciados pela primeira letra do nome. O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Ceará, tendo sido observados os aspectos éticos e legais, conforme as normas de pesquisa com seres humanos da Resolução Nº 196/96, do Ministério da Saúde7. Os instrumentos para coleta de dados foram o genograma e o ecomapa e como procedimentos utilizamos visita domiciliar, observação, diário de campo e diário de Gabi. O genograma é um diagrama do grupo familiar e o ecomapa é um diagrama de contato da família imediata com os recursos comunitários ou pessoas significativas que possam funcionar como rede de suporte socio-sanitária1. O genograma e o ecomapa proporcionam, principalmente, conhecer a estrutura familiar, embora, neste estudo, tenham sido utilizados em todos os

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momentos de avaliação da família de Gabi, permitindo ampliar nossa percepção sobre toda família, bem como as interações desta com os sistemas mais amplos e sua família extensa. A visita domiciliar possibilitou-nos identificar o contexto sociocultural dessa família, bem como perceber os vínculos afetivos entre seus membros. A observação permitiu-nos apreender os fatores externos, ou seja, o ambiente da casa, e os fatores internos, como os sentimentos de cada membro, reações e observações imediatas destes, a forma como se comunicam, se relacionam, e como se dão os vínculos afetivos. Gabi escreveu um diário sobre esse período de sua vida, que nos possibilitou ter uma maior compreensão de sua história de vida, seus sentimentos e vínculos afetivos com sua família. O diário de campo contribuiu para registrarmos todos os dados durante a coleta de dados e a análise deles foi baseada na visualização do genograma e ecomapa, interpretação dos depoimentos e na captação da subjetividade expressada pelos sujeitos no decorrer do diálogo com as pesquisadoras e família.

Composição da família de Gabi e seus vínculos A família nuclear de Gabi é formada pela a senhora O, de 53 anos, empregada em uma confecção, mas sem vínculo empregatício, cuja renda mensal é de dois salários mínimos; seus dois filhos, Gabi, 20 anos, solteira, concluiu o ensino médio, não trabalha e o irmão R, que tem 17 anos, estuda no período da noite e não trabalha. A senhora O está separada do pai de Gabi há 10 anos e atualmente mora com um companheiro, senhor C, 28 anos, pedreiro, carteira assinada, percebe um salário mínimo por mês. Gabi e o irmão mantêm um contato muito superficial com o pai e ela não se relaciona bem com o atual companheiro da mãe. O contato com a família extensa é também muito superficial, tanto do lado do pai de Gabi como da mãe, apenas mantém contato com um tio segundo de sua mãe, que é espírita e é considerado um parente significativo. As instituições que compõem a rede social de apoio da família são igreja evangélica (Assembléia de Deus) e apenas a mãe e a filha a freqüentam uma vez na semana. As outras instituições são a UBASF, próxima a casa de Gabi, onde está cadastrada e faz o pré-natal; o IPCC é outro local onde ela realiza o tratamento do HPV; às quartas-feiras participa de um grupo de gestantes, organizado por um candidato a vereador do bairro, onde recebe orientações sobre o

pré-natal e prepara o enxoval do bebê. As redes de suporte social em saúde propiciam ambientes favoráveis que objetivam o bem-estar do individuo, da família e de grupos comunitários 8.

Conhecendo Gabi Gabi, solteira, encontra-se na 24ª semana gestacional, primigesta, início da atividade sexual aos 19 anos, único parceiro, não tem vício; seu namorado, que chamaremos de A, pai da criança, tem 15 anos e o ensino fundamental completo. Gabi o conheceu há aproximadamente um ano e saiu de casa para morar com a família dele. No entanto, essa união durou apenas dois meses, tempo em que pôde perceber que o namorado não era o que ela ansiava e que não tomava iniciativa nem de trabalhar e nem de estudar, retornando para casa. Ao tentarmos compreender o A, verificamos que esse jovem, por encontrar-se na fase da adolescência, parece não estar em busca de um relacionamento amoroso duradouro. A atividade sexual na adolescência é como uma força que se impõe ao corpo do jovem, necessária para seus órgãos genitais, ficando o corpo como algo externo e alheio a si mesmo. Tem pouca importância, no sentido de criar laços, pois para os jovens ocupa um papel secundário em comparação com a relevância de ter alguém com quem possam falar de si mesmo e trocar experiências9-11.

RESUL TADOS ESULT

Referem-se ao tratamento de Gabi e in-

tervenções junto a sua família.

Tratamento Gabi, referenciada da UBASF para o IPCC, foi atendida por uma das pesquisadoras, que trabalha na referida instituição, apresentando volumosa lesão por Papilomavirus humano, ocluindo o intróito vaginal por completo. Foi encaminhada pelo médico do IPCC para cirurgia de ressecção da lesão, urgente. Verificamos o desconhecimento de Gabi sobre sua patologia, pois afirmou achar que essa alteração, ao surgir em sua vulva, fazia parte da gravidez. Mesmo com a diminuição dos tabus em falar de sexo na escola e na família e embora os meios de comunicação sempre abordem essas questões, ainda encontramos jovens que desconhecem as DST e a própria evolução gestacional. A realidade tem-nos mostrado que ainda necessitamos investir em uma abordagem conjunta em educação em saúde com famílias e jovens, a fim de que juntos propiciemos subsídios para R Enferm UERJ 2004; 12:199-04.

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Modelo Calgary de avaliação

que mudem essa realidade. A vulnerabilidade dos jovens em relação às DST e os inúmeros casos de gravidez não planejada, nessa faixa etária, são marcantes12. Percebemos, nesse momento interativo, a necessidade de trabalhar sua auto-estima que estava prejudicada, tanto pelo desconhecimento inicial da necessidade do procedimento cirúrgico quanto pelo tamanho da lesão que dificultava a deambulação, como pelo medo de o filho nascer com a doença. Gabi compareceu ao IPCC, após 15 dias, acompanhada da mãe, para realizar a cirurgia. Uma das autoras compareceu também, pois havia se comprometido com Gabi que estaria presente para assistir à cirurgia, momento em que conheceu sua mãe, que estava relatando para outras pessoas o ocorrido com a filha, no hall do centro cirúrgico. A pesquisadora apresentou-se, a pedido de Gabi, à sua mãe, e solicitou para conversar reservadamente com ela, que demonstrava tristeza e chorava. (...) Estou muito chateada com minha filha, pois somente ontem à noite, foi que ela falou da doença e da cirurgia que seria hoje. (mãe)

Informou também que é hipertensa e que essa notícia foi um choque para ela, comentando não entender como a filha pôde esconder esse fato. Fez diversas perguntas: o que era a doença, se a filha ficaria boa, se contaminaria o bebê, qual o tipo de parto a que se submeteria. Todas foram, lentamente, respondidas, e mostramos a relevância do apoio emocional de que Gabi estava necessitando. É oportuno salientar que havia nesse primeiro momento um vínculo negativo entre Gabi e sua mãe, e, a partir de nossa intervenção, observamos mudança no semblante de sua mãe que falou que não estava triste por causa do bebê que iria nascer, pois até já estava comprando o enxoval, mas pelo relacionamento da filha com o A, pois ela acha que esta precisa se afastar dele, pois ele não a merece (...) é drogado, usa maconha e é de gangue. ( mãe)

Após a cirurgia, quando Gabi chegou na sala de recuperação, e sua mãe pôde entrar, aproximouse dela, beijou-lhe a face e acariciou seu ventre. Percebemos que o apoio emocional dado à filha, nesse momento, contribuiu para facilitar o início de relacionamento positivo e compreensão dos novos papéis numa nova relação adulto-adulto. Após dois dias da cirurgia de Gabi, realizamos juntamente com a enfermeira da UBASF, uma visita domiciliar a fim de verificarmos como estava a família, conhecermos o contexto, os vínculos familiap.202 •

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res e traçarmos intervenções de enfermagem. Pedimos permissão para entrarmos na casa de Gabi que se encontrava deitada e apenas o irmão R estava em casa, assistindo televisão. Gabi estava chorando. Perguntamos se poderia contar o que estava ocorrendo, e ela disse que era porque estava faminta, e como o irmão estava dormindo, tendo acordado há pouco tempo, só agora iria preparar o seu lanche. Gabi disse que só se levantava para ir ao banheiro, pois a cirurgia doía e tinha receio de sangrar. Procedemos com as orientações sobre as medidas de autocuidado, como higiene vulvar e lavagem das vestimentas íntimas e de cama e orientamos que ela não necessitava ficar em repouso absoluto no leito. Verificamos que o ambiente domiciliar apresentava-se mal conservado, paredes caiadas, com algumas áreas apresentando reboco solto, o teto coberto de telhas, algumas quebradas, a higiene geral da casa é precária, apesar de ter os móveis que uma família necessita ter. A casa tem um pequeno jardim, pequena varanda, sala de visita, sala de jantar, três quartos, cozinha, banheiro. Após a segunda cirurgia de Gabi, fizemos uma outra visita domiciliar. Gabi e o irmão estavam novamente sozinhos em casa, pedimos então permissão para conversar com R e pudemos perceber que Gabi apresentava um semblante mais feliz e demonstrou um bom relacionamento com o irmão. Por sua vez ele disse: [...]depois que soube da gravidez, eu me aproximei mais ainda dela[...] (R)

então passou a mão de leve no abdômen de Gabi. Pudemos, nesse momento, perceber a união entre os irmãos, e é relevante lembrar que os dois passam o dia sozinhos em casa, um contando com o apoio do outro. O R diz ser um rapaz calmo, gosta de jogar bola diariamente com os amigos, no final da tarde, vai raramente a festas, ainda não namora, mas gosta de beber quando sai para as festas. Disse: [...] a minha mãe sabe.... mas não se incomoda, pois sabe que não gosto de confusão. (R)

Também falou que não interfere no relacionamento do Sr. C com a mãe e se dá bem com ele, e inclusive não se incomoda com o namoro de Gabi com o A. Verificamos, através da leitura do diário de Gabi, que nos mostrou quando fizemos a terceira visita domiciliar e pela sua fala e por meio de observação, o sofrimento enfrentado e o abandono, por parte do namorado, durante a trajetória de sua doença.

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Contudo escreveu no diário, que estava alegre, porque terá uma menina e por ter melhorado o vínculo afetivo com sua mãe. Quanto às tarefas domésticas, Gabi e o R, as realizam todas, desenvolvem um relacionamento cooperativo de trabalho, cozinham, lavam e passam, pois a mãe trabalha o dia todo e o Sr. C também, ambos só chegam em casa à noite. As compras de casa são feitas no supermercado e Gabi gosta de realizar essa tarefa com a mãe.

Família A família em estudo não é numerosa, apesar de a mãe trabalhar, e o companheiro também, apresenta baixo nível socioeconômico, no entanto o tamanho da casa é suficiente para acomodar seus membros. A família está passando por uma crise no seu ciclo vital, pois existe, entre seus membros, uma jovem solteira com gravidez não planejada e portando uma DST; inicialmente, entrou em desacordo com sua família de origem, rompeu com a mãe em troca de um relacionamento emocional, mais forte do que o vínculo familiar de origem. Apesar de ter retornado ao lar, após ter rompido com A, não se sentiu encorajada de verbalizar para a mãe a descoberta de sua doença, por apresentar vínculo afetivo negativo com ela. No sistema individual, pudemos verificar, inicialmente, que Gabi mostrava dificuldade de adaptação a essa nova relação conjugal da mãe, e parece ver o Senhor C como uma ameaça a sua família. Já o irmão R não refere insatisfação com esse relacionamento. No entanto, a identificação dos filhos pode estar abalada pela ausência da figura do pai, que é alcoólatra, embora já há alguns anos sem beber. Quanto ao sistema pai-filho, Gabi e o irmão mantêm contato muito superficial com o pai, como também com a família extensa, pois só se relacionam com um tio em segundo grau da mãe, que é espírita, e de acordo com a mãe de Gabi, é uma pessoa significativa para sua família, pois dá muitos conselhos. Também o relacionamento com os vizinhos e no trabalho é superficial. No subsistema de irmãos, o R parece ser compreensivo com Gabi e demonstra felicidade por ela estar gestando um filho. Durante a entrevista não foi observado nenhum comportamento negativo, as intervenções também reforçaram o subsistema de irmãos, pois o R tem-se mostrado positivo com Gabi. Quanto ao sistema profissionais-família, verificamos que Gabi e sua mãe comparecem às consultas aprazadas, o que representa o compromisso da

família com o tratamento da doença. No entanto, ocorre falta de informação da família sobre o problema de saúde de Gabi, o que deixa a mãe ansiosa. A doença também tem deixado Gabi preocupada por ter medo de a criança nascer contaminada. O sistema enfermeiras-família, como um todo, possibilitou uma aliança com a família de Gabi e reforçou a colaboração no tratamento da doença. O sistema de família, como um todo, evidencia uma família desestruturada, constituindose em fator de risco para a saúde mental de seus membros. Contudo, a partir de nossa intervenção, verificamos que a mãe tem se mostrado muito comprometida com a doença de Gabi e procura ser uma boa mãe, o que favorece a capacidade de melhorar vínculos afetivos. A mãe de Gabi agradeceu muita a ajuda prestada a sua família. Verbalizou: [...] se não fosse a senhora, o que seria de nós.

Por sua vez, Gabi demonstra que a nossa interação levou-a a aprofundar a reflexão sobre seu relacionamento com sua mãe e tem procurado manter um vínculo positivo com ela. As redes sociais de apoio são o trabalho da mãe, a igreja, a UBASF, o IPCC e um projeto mantido por um candidato a vereador do bairro, que auxilia no enxoval do bebê e realiza atividades educativas com gestantes. Também ressaltamos a relevância da referência e contra-referência na atenção à saúde da comunidade pois fortalece os sistemas profissionais-famílias contribuindo para o bem-estar delas. Todo o acompanhamento dessa família vem sendo realizado através desse intercâmbio interinstitucional que tem se dado através de documentos, telefonemas e encontros presenciais, recursos inestimáveis para essa família podendo contribuir para a interação de seus membros e enfrentar a crise que estão vivenciando.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo permitiu avaliar a pertinência do

Modelo Calgary de Avaliação da Família de Gabi, jovem solteira, gestante e portadora de HPV. Essa infecção, por ser uma doença de transmissão sexual, pode levar ao sentimento de culpa ou de medo. Portanto, é importante o cuidado da enfermeira não só com a cliente mas também com sua família. Ao interagirmos com Gabi e sua mãe, verificamos que apresentavam dificuldades nesse período do ciclo vital pela gravidez e a doença que R Enferm UERJ 2004; 12:199-04.

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Modelo Calgary de avaliação

interferiram na dinâmica familiar. Os vínculos familiares afetivos apresentavam-se negativos, dificultando o relacionamento entre Gabi e sua família. A avaliação da família e de suas dificuldades enfrentadas possibilitou traçarmos intervenções que melhoraram o vínculo afetivo mãe/filha. Dessa forma, reafirmamos a importância do apoio prestado à família de Gabi e acreditamos na relevância da abordagem com famílias que apresentam dificuldades de interação pois permite fortalecer os laços afetivos.

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APLIC ACIÓN DEL MODELO CALG AR Y PLICA ALGAR ARY DE PAPILOMA VIRUS HUMANO APILOMAVIRUS

DE

ambulatorial). Fortaleza (CE): SESA-CE; 2002. 5. Zambrano E et al. Cesárea: percepções da puérpera frente à escolha do tipo de parto. Rev Enf UERJ 2003; 11:177-81. 6. Ribalta JCL et al. Patologia do trato genital inferior na gestação HPV: qual o risco de transmissão para o feto? Qual a conduta com a gestante?[online] Disponível em http:www.cervicolp.com.br/atualização/ HPV_Gestação.htm Acesso em 29 mar. 2003. 7. Ministério da Saúde (Br). Informe Epidemiológico do SUS (Brasília) 1996; 3: 67-35. 8. Frota MA et al. Redes de suporte social: uma proposta educativa para a saúde da comunidade. In: Barroso GT, Vieira NFC e Varela ZMV. Educação em saúde no contexto da promoção humana. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha; 2003. p. 85-101. 9. Knobel M. A síndrome da adolescência normal. In: Aberastury KM. Adolescência normal: um enfoque psicanalítico. 8ª ed. Porto Alegre (RS): Artes Médicas;1989. p.24-59. 10. Spenlè AMR. O adolescente e seu mundo. 2ª ed. São Paulo: Liv. Duas Cidades; 1995. 11. Peluso A, Sardilli SO. O adolescente e a afetividade. In: Peluso A. Adolescentes: pesquisa sobre uma idade de risco. São Paulo: Paulinas; 1998. p. 19-67. 12. Ministério da Saúde (Br). Prevenir é sempre melhor. Coordenação Nacional de DST e AIDS. Brasília (DF): Secretaria de Comunicação; 2000.

EVAL UACIÓN ALU

EN

FAMILIA

DE

GEST ANTE POR TADORA ESTANTE ORT

RESUMEN: Se trata de un estudio de caso, cuyo objetivo fue evaluar la familia de una gestante, soltera, portadora de Papilomavirus humano, priorizando los vínculos afectivos entre madre e hija, mediante el Modelo Calgary de Evaluación de Familias, en una unidad de referencia en ginecología en FortalezaCeará-Brasil, durante los meses de septiembre y octubre de 2003. Para la colecta de datos se utilizaron: genograma, ecomapa, observación, diario de campo y el diario de gestante. Se verificó que la familia de la gestante presentaba dificultades en obrar simultáneamente con las cuestiones del embarazo y de la enfermedad, las cuales afectaron su dinámica y los vínculos afectivos entre madre e hija. La actuación de la enfermera permitió que los familiares reflexionasen sobre los problemas presentados y, a partir de esa realidad, fueron posibles cambios de autoreconocimiento y conocimiento de nuevos roles dentro de la estructura familiar. Palabras clave: Educación en salud; enfermera; gestante; salud de la familia.

Recebido em: 14.01.2004 Aprovado em: 02.08.2004

Notas *

Enfermeira, Mestra em Enfermagem pela UFC. Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará. Professora da Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Membro do Grupo FAMEPE (Família, Estudos, Pesquisa e Extensão). e. mail: a. [email protected] ** Enfermeira, Mestra em Enfermagem Comunitária pela UFBA; Docente livre pela UERJ. Integra o quadro de Professores do programa de Pósgraduação strictu sensu em Enfermagem – UFC. Membro do Grupo FAMEPE(Família, Estudos, Pesquisa e Extensão). *** Texto extraído de Tese de Doutorado em construção do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Enfermagem/FFOE/UFC. p.204 •

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